quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Da tragédia à farsa

Como Jack, vamos por partes:
  1. A coordenação de campanha do PT ao governo federal é acusada de querer comprar dossiê que prejudicaria o candidato ao governo do estado de São Paulo. De federal para estadual, é isso mesmo?
  2. Lula, cuja candidatura vem nadando de braçadas num verdadeiro mar de rosas, teria interesse em prejudicar Serra, que não é seu adversário. Ou Serra ainda não se convenceu da derrota de 2004 e pensa que sua disputa é com Lula?
  3. Valdebran é anunciado como filiado ao PT, mas estava distante do partido, tendo-se aproximado do PMDB de Mato Grosso depois de ter sido recusado para o cargo de diretor da Eletronorte, barrado por iniciativa do PT matogrossense (senadora Serys à frente). Tinha motivo para vingar-se, certo?
  4. Ele e Gedimar, integrantes do serviço de "inteligência" da campanha de Lula, teriam negociado com os Vedoins, inclusive por telefone, mesmo sabendo (ou ao menos devendo supor) que estes vinham sendo monitorados pela Polícia Federal 24 horas por dia. Eu disse "inteligência"?
  5. Expedito ora é anunciado pela mídia como a pessoa que garantiu o pagamento pela compra do dossiê, ora se diz que foi ele que elaborou o dossiê. Ué!? O PT queria comprar um dossiê que ele próprio havia elaborado?
Enfim, soma daqui, subtrai dali, multiplica, divide, mas a conta não bate, não fecha.

Enquanto isso, o que se sabe é que um mês antes desse episódio membros do PSDB haviam mantido negociação com os Vedoins, que pretendiam vender-lhes um dossiê anti-Lula.

José Serra, experiente na arte de espionar e forjar flagrantes com montanha de dinheiro (quem não se lembra da capa de Veja envolvendo Roseana Sarney, em 2004, que a tirou da disputa à presidência da República naquele ano?) , esbraveja porque a Polícia Federal não permitiu que se fotografasse a grana. Os tucanos tanto queriam o impacto visual que, no horário eleitoral gratuito de agora há pouco, de Alckmin, trataram de mostrar dinheiro falso simulando o que teria sido encontrado pelos policiais.

Já dizia Karl Marx que, na História, toda tragédia se repete como farsa.

Cortina de fumaça

Enfim, a tucanada conseguiu criar uma poderosa cortina de fumaça para encobrir suas inegáveis relações com a máfia dos sanguessugas. Com apoio da grande mídia, que há muito tempo fez sua opção, tornou a tentativa de compra do dossiê mais importante do que o próprio.

Por falar nisso, comprar dossiê é crime?

Ocultar prova, sim, é crime. Tentar obtê-la também é?

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Pra começar



Tomando carona na onda dos blogs, aqui vai o meu.

Não crieis grandes expectativas, porém, amados leitores. Talvez não encontreis novidade significativa por estas bandas, previno-vos. Pretendo comentar fatos políticos e jurídicos, enxertar alguma poesia, crônica, literatices, essas coisas. Perdoai-me, enfim, pela falta de originalidade.

Para começar, quero destacar duas grandes ironias que marcaram o recente assassinato do Coronel Ubiratan, deputado estadual que conheci pessoalmente pelos corredores da Assembléia, poucos dias antes de sua morte.

Impossível não lembrar, não mencionar sua participação no trágico episódio da invasão do Carandiru, quando 111 presos foram mortos por policiais sob seu comando.

Primeira ironia: ele, que foi responsabilizado pela morte dos 111 "machões" (na verdade, presos indefesos que já estavam dominados, mas o imaginário popular certamente não conseguirá desassociá-los da idéia de portentosos varões), acabou assassinado pelas delicadas (!?) mãos de uma mulher. Eis mais uma vez o velho e perigoso "fogo amigo", para usar uma expressão própria da política. Isso, claro, tomando por base as suposições de que tenha sido mesmo a namorada a autora do único disparo que o vitimou. Concedamo-la, por óbvio, o benefício da dúvida, em respeito ao constitucional princípio da presunção de inocência, que anda meio esquecido, especialmente quando se trata de emitir juízos sobre comportamento de companheiros petistas e outros políticos.

Segunda - e mais grave - ironia: Ubiratan foi um dos mais ardorosos defensores do voto contra o desarmamento, por ocasião do referendo, de triste memória. Participou de debates na TV, em universidades, sempre ao lado de gente como Fleury, Conte Lopes, Erasmo Dias... Como eles, vociferou aos quatro ventos que arma em casa serve para defesa pessoal. Pois é. Logo ele, experimentado policial, usuário de arma de fogo por dever de ofício, quem diria... morto por sua própria arma de uso doméstico!

Enfim, que Deus o tenha em bom lugar, ao lado das 111 almas produzidas sob sua batuta. Que decerto o aguardaram ansiosamente e o recepcionaram de forma assaz calorosa lá na margem oposta do rio...