domingo, 4 de novembro de 2007

Capivari perde o mais importante jornal de sua história

Foi com tristeza imensa que recebi a notícia de encerramento das atividades do jornal "Dois Pontos - Capivari", do qual fui um dos fundadores. A última edição circulou no Dia de Finados, quatorze anos e meio depois de seu lançamento. Preparei um texto, a pedido dos meus amigos e antigos sócios, que valentemente conseguiram manter o jornal ao longo desses anos todos, mas não o fiz a tempo. Quando o concluí e enviei, a edição derradeira já estava fechada e impressa. Publico-o aqui, como minha homenagem à família Andriotti - Delçon, Marcelo, Marilena, Francine, Priscila, Regiane - e todos os demais colaboradores do revolucionário e inesquecível jornal "Dois Pontos":

Vida longa ao bom jornalismo

A notícia do fechamento do jornal Dois Pontos, que ajudei a fundar, é extremamente dolorosa para mim, a ponto de eu relutar a comentá-la até este último instante. No entanto, os amigos da família Andriotti pedem-me um depoimento, e eu não lhes posso negar. Nem sei se haverá tempo para ser publicado, mas dedico-lhes como homenagem.

Era início de 1993 quando Delçon me falou da intenção de Marcelo, jornalista com experiência na imprensa campineira, de lançar um jornal em Capivari. “Tenho um projeto pronto”, disse-lhe eu, topando na hora.

De fato, quando saí do jornal “Tribuna Regional”, de Gilberto Annicchino e irmãos, fui trabalhar em Piracicaba, no Fórum, e lá percebi que era possível fazer um jornal decente mesmo numa cidade do interior. Claro que Piracicaba é e já era bem maior que Capivari, mas o provincianismo era comum a ambas. Desde então, idos de 1983, passei a alimentar a idéia de criar um jornal em Capivari. Fiz projetos, bonecos, criei o nome, o logotipo. M
ostrei-os ou comentei com várias pessoas, como Jorge Panserini, à época iniciando a magistratura como juiz substituto em Piracicaba. Foi ele quem me sugeriu, por que não revista, em vez de jornal? O projeto, então, passou a ter duas formas diferentes, e eu rabiscava folhas e folhas criando bonecos de um ou de outro formatos.

Anos mais tarde, detalhei o projeto e mostrei-o a João Jerônimo Monticelli, que se empolgou, mas não residia em Capivari, não tinha disponibilidade. Em 1992, convidei Wilson Reganelli, então jornalista da FM Raízes, que topou a parceria. Chegou a me passar documentos pessoais com vistas à criação da sociedade. Não vingou.

O sonho, que se iniciou em 1983, só veio a se tornar realidade dez anos depois. O convite dos Andriotti veio na hora certa. Sempre tive grande empatia com eles, algo kármico até. Lembro-me de Arlindo Batagim, no balcão da “Tribuna”, devia ser 1982, perguntando-me: “mocinho, você é gente dos Andriotti?” Cinco ou seis anos depois, num outro balcão, agora do Banespa, o mesmo seu Arlindo veio ao meu caixa, olhou-me do mesmo jeito de antes e fez exatamente a mesma pergunta. Em 1990, José Machado, então prefeito de Piracicaba, numa visita que fez a Capivari, veio até mim, cumprimentou-me e perguntou: “cadê seu pai?” Entendi na hora. O “pai” a que ele se referia era Delçon Andriotti, e em certa medida é assim que eu o tenho, sem nenhum desprezo, claro, ao meu pai, morto quando eu ainda era um menino.

Lá na infância, Marcelo talvez nem se lembre disso, participamos de uma partida de futebol no campo do Corintinha, que ficava próximo da casa de ambos, e compusemos o mesmo time. Eu era péssimo no futebol. No entanto, naquele dia, os astros pareciam agir em nosso favor. Não era partida oficial, nem jogo de camisa tínhamos. Eram os “com camisa” contra os “sem camisa”. Conforme foi entardecendo, alguns meninos foram indo embora. A certa altura, restamos apenas eu e Marcelo, sem goleiro, contra cinco ou seis garotos do outro lado. Sei lá por que bênçãos dos céus, não é que fizemos um gol atrás do outro? Vencemos! Em toda a minha vida, foi o melhor desempenho que tive numa partida de futebol.

A dupla – “dupla de três”, na verdade – voltou a dar certo no jornal Dois Pontos. Desde o primeiro instante. Criamos um jornal sério, como não havia antes na cidade. Dinâmico, independente, bonito, moderno. Tinha charge, editorial, editoria política, sinopse dos filmes em cartaz no Vera Cruz, “ranking” dos vídeos mais alugados, ampla cobertura do esporte. A coluna social não era para puxar saco de ninguém, era para divulgar eventos, aniversários de quem quer que fosse, independentemente da classe social. Criei a coluna “Crônicas & Agudas”, depois os “Dois Pontinhos”, depois “Olhos Abertos”. Criei os “Pingos nos Is”, para alfinetar os políticos locais com boa dose de humor.

O curto período em que permaneci na sociedade (de 93 a 97) foi muito marcante na minha vida. Eu morava em São Paulo, no início, onde trabalhava como advogado do Banespa. Às terças, à noite, telefonava para Delçon Andriotti e perguntava qual seria a matéria principal da semana. E qual filme seria exibido no Vera Cruz. Além disso, ele me ditava nomes e endereços de novos assinantes. Na mesma noite eu buscava na “Vejinha” a sinopse do filme, recortava a foto, se houvesse, e fazia questão de reescrever o texto. Depois, sentava-me ao computador, cadastrava os novos assinantes e imprimia as etiquetas. Em seguida, escrevia o editorial, baseado nos informes que Delçon me havia passado. Ao final de tudo, bolava e desenhava a charge da semana.

Na quarta-feira, na hora do almoço, eu ia à agência dos correios que ficava na galeria 9 de Julho, debaixo do Anhangabaú (onde fica a Prefeitura de São Paulo) e despachava pelo Sedex o calhamaço das etiquetas, o disquete (ainda do tipo flexível), o recorte da foto e a charge. Na quinta o material estava em Capivari, onde a charge e a foto eram escaneadas.

Se não viesse a Capivari no final de semana, só recebia o jornal na quarta ou quinta da semana seguinte, pelo correio. Era uma angústia, uma expectativa que, ao final, me proporcionava enorme prazer.

Até aqui, falei sobre minha contribuição ao jornal. Não posso finalizar sem lembrar com carinho cada um dos demais companheiros de luta, a começar por Delçon e Marcelo, reverenciando também Marilena, Francine, Priscila, Camila. Luciana, minha esposa, que compartilhava comigo de minha parte na sociedade, assim como das noites e madrugadas em claro para fechar o jornal. O saudoso seu Luiz e dona Delma. Os meninos entregadores, cujos nomes já nem me lembro de todos, o Andrezinho, o “Clebão”, todos enfim. Margarida, que assinou a coluna “Gente Dois Pontos”. Pri, o repórter, que chegou quando eu iniciava minha saída. Eliana Matos, de “Sexto Sentido”. Regiane e filhos, Aloísio, na retaguarda. Vocês foram lutadores!

Espero que ao menos o jornal sirva de exemplo às gerações futuras. Exemplo de jornalismo sério, profissional, independente. Hoje é dia de Finados. Mas o jornal Dois Pontos não morre aqui. Está cravado na história de Capivari, onde viverá eternamente, e eu sinto orgulho de ter participado desse importante projeto.

4 comentários:

Anônimo disse...

Realmente foi uma triste perda, não só para os sócios como para os associados, amigos e leitores capivarianos! Sinto muito por este fato, cheguei a acompanhar a trajetória deste jornal, que por sinal muito agradável a leitura. Parabéns a todos os envolvidos, e concerteza "Dois Pontos" ficará enraizado em nossas lembranças.

Dr. Luiz, meu nome é Rodrigo Zanuni e sou bacharel em direito pela Universidade Metodista de Piracicaba e venho através deste meio comunicativo expressar minha intensão, apesar de não achar o meio mais correto para isto, mas gostaria de lhe enviar meu currículo. No momento, estou esperando o resultado da 2ªfase da OAB.
Agradeço a atenção e parabenizo, mais uma vez, pela participação do belíssimo jornal Dois Pontos.

Rodrigo Zanuni
email: r_zanuni@yahoo.com.br
(19)34911159/ 81663938
Capivari-SP

Anônimo disse...

necessario verificar:)

Anônimo disse...

PERDEU O JORNAL ? Q DIFERENÇA FZ ? BOM A TODOS DA CIDADE DE CAPIVARI UMA BOA TARDE FOI COM MUITA SATISFAÇAO E CONHECI ESTA BONITA CIDADE NO DIA 21/05/11 FIQUEI ENCANTADO COM A RODOVIARIA SEM CONTAR COM A LINDA FRASE NA ENTRADA DA CIDADE BEM VINDO A CIDADE DE CAPIVARI PERCEBI O QT O SHR PREFITO SE IMPORTA COM OS VISITANTES RSRSRS SEM CONTAR Q FIQUEI SUPER CONTENTE DE NAO TE CHEGO EM DIA DE XUVA RSRSRS SE NAO EU NEM DESCERIA DO ONIBUS RSRSRS PARABENS SHR PREFEITO POR TUA CIDADE COMO DIZ O DITADO TODOS TEM O Q BEM MERECEM MAS VOU PROVIDENCIAR O PREFEITO DE A CORJA TODA DE VEREADORES DE TABOAO DA SERRA PRA TOCAR ESTA BONITA CIDADE DE CAPIVARI ABRAÇOS A T0DOS MAS UMA COISA AI TEM DE LINDO UMA LINDA DAMA Q CONQUISTOU MEU CORAÇAO

Luís Antônio Albiero disse...

Meu caro visitante, seja bem-vindo. Capivari o recebe de braços abertos. Apesar das ironias... Sobre a rodoviária, é evidente que, respeitando a graça da sua arquitetura, que teve seu valor à sua época, ela hoje está totalmente defasada. Feia, suja, mal organizada, insuficiente. Tenho notícias de que já existe verba e projeto para uma nova rodoviária. Vamos aguardar. Nós, capivarianos, estamos aguardando há dácadas... No mais, convido-o a conhecer melhor esta cidade, sua história, seu povo, suas tradições, suas personalidades, começando por Tarsila (conhece?). E não precisamos de corja alguma. Podemos até exportar para sua cidade, se precisar.