sexta-feira, 1 de junho de 2012

A IDOLATRIA E A "ODIOLATRIA"


Uma das acusações mais frequentes que se fazem a nós, petistas, é a de que seríamos "idólatras", ou seja, que cultuaríamos a figura de  Lula como se fosse um "deus".


Nada mais inverídico e injusto. E estúpido. Lula tem uma importância que transcende as fronteiras do partido. É respeitado pelos simpatizantes e filiados ao PT e, provavelmente, muito mais fora dele, no interior do amorfo conjunto das pessoas que, por ingenuidade ou opção, manifestam desprezo à política e aos partidos. Sem contar o incontável número de admiradores pelo mundo afora.


Todo conjunto de pessoas - de uma singela associação de bairro aos maiores conglomerados empresariais multinacionais - tem uma ou algumas figuras que se destacam. Lula destacou-se no PT antes mesmo de o partido existir. O PT nasceu da sua cabeça, de um projeto ousado de construção de um partido de massa, que tivesse por prioridade absoluta representar a classe trabalhadora. Que esse homem tenha-se tornado líder dessa sigla, portanto, nada mais natural. Que no âmbito desse partido seja respeitado e admirado, idem. Que, alçado à presidência da República e tendo obtido e proporcionado todas as conquistas havidas, ib idem. Portanto, é perda de tempo e desperdício de massa encefálica acusar os petistas ou os brasileiros em geral de "endeusar", "idolatrar", seu líder político maior da atualidade.


Para nós, petistas, é um orgulho imenso ter como figura máxima do partido uma pessoa como Lula. Por sua trajetória, por seu dinamismo, por seu vigor, por seu elevado grau de consciência política, por sua inteligência ímpar, por sua capacidade de liderar e competência para governar, por sua perene expressão de alegria e celebração da vida. Para os brasileiros em geral, o orgulho há de ser ainda maior - exceto para uma pequena parcela que, na contramão, nutre por ele extremo ódio. Que há os que se excedem na admiração, alcançando até mesmo o ponto de cegueira, também não tenho dúvida, mas toda generalização é perniciosa.


Poucos, enfim - se é que existem -, podem dizer-se indiferentes a Lula. Ou se ama, ou se odeia o metalúrgico que governou um dos maiores países do mundo e o tornou um dos mais importantes.


O que me parece digno de um exame aprofundado é o oposto, a idolatria negativa, a "odiolatria" - se me permitem o neologismo -, o elevado grau de ódio que parcela ínfima dos brasileiros nutre por esse homem. Não vou mencionar o preconceito, porque, de tão usado, tornou-se por demais surrado. Já não convence. Eu diria mesmo que se estabeleceu uma espécie de preconceito em relação à palavra "preconceito"...


Em verdade, ódio não se explica. É apenas sentimento, no sentido de ser pura manifestação maligna do espírito de quem odeia. Pode-se odiar Lula por falar errado, por ter a voz rouca ou a língua presa, por ser nordestino, por ter tido uma origem humilde, por não ter cursado faculdade, por ter feito um governo voltado aos mais necessitados, aos negros, aos índios, às mulheres. Pode-se odiar Lula por qualquer reação química do próprio cérebro de quem o odeia. Pode-se odiá-lo por ser petista... 


O fato é que, se é condenável a idolatria, naquele sentido de se nutrir uma admiração por alguém até o limite da cegueira, da incapacidade de enxergar-lhe os defeitos, é igualmente condenável o ódio. Tanto quanto a paixão exacerbada, o ódio também cega, também turva a mente, igualmente compromete a capacidade de enxergar e discernir.


Tome-se por exemplo o recente episódio protagonizado pelo ministro do STF Gilmar Mendes, que, mais de um mês depois do ocorrido, foi à revista Veja e disse que teria sido "pressionado" pelo ex-presidente Lula para adiar o julgamento do mensalão. A revista publicou a notícia e, menos de 24 horas depois, o fato foi desmentido por uma terceira pessoa, única testemunha presencial da reunião. 


Foi um encontro a três. Um diz que houve pressão, o outro diz que não. Até aqui, palavra contra palavra - que, no âmbito judicial, resolve-se ouvindo as testemunhas. O terceiro personagem, testemunha única, enfaticamente, disse que não houve pressão, que sequer se tocou no assunto mensalão. Esse terceiro, o ex-ministro do STF Nélson Jobim, é amigo pessoal de Gilmar Mendes, vinha escrevendo um livro em conjunto com ele. Além disso, foi ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso, ou seja, de partido opositor ao de Lula. Alguém, enfim, absolutamente insuspeito para negar a versão do próprio amigo e ex-colega. De que adiantou? Para a mídia velha brasileira, quase nada. Para os "odiólatras" de Lula, absolutamente nada. 


O que dizer desses, a começar da mídia, alcançando as pessoas importantes e as comuns que se manifestaram pelas redes sociais, que, a despeito do qualificado testemunho de Nélson Jobim, apesar da palavra de um ex-presidente da República, apesar, sobretudo, do fato de o próprio Gilmar Mendes ter relativizado o episódio - deixou de mencionar a "pressão" e passou a dizer que houve mera "insinuação" e que apenas, pobrezinho, "se sentiu" pressionado -, ainda insistem em dar crédito absoluto à versão original, disseminada pela revista Veja? Seriam desonestas essas pessoas? Talvez, mas não creio. 


Não vejo outra explicação a não ser o ódio. Que, como disse, cega, compromete o discernimento, impede a capacidade de raciocinar.


2 comentários:

Anônimo disse...

Um texto engenhoso, Luís Antonio Albiero.

Mas, depois de oito anos de governo, com uma reeleição e elegendo sucessor, ainda há necessidade de falar em preconceito ou ódio?

A realidade demonstra que o ex-presidente transita por vários setores com desenvoltura. Não há necessidade de achar-se discriminado.

Por exemplo, seu governo foi numa base de apoio ampla e conservadora. Por que alguém dessa base teria ódio? Não parece.

Já oposição não é ódio e nem preconceito. Oposição é oposição e deve ser oposição.

Afinal, mandatos estão ai para serem avaliados, resultados medidos e comparados.

Já o aspecto se houve pressão ou não, melhor esperar o julgamento do mensalão no STF.

Abraços

Ronaldo Lima

Luís Antônio Albiero disse...

Observe bem, meu caro FaceAmigo capivariano Ronaldo Lima, que eu me refiro a uma "parcela ínfima dos brasileiros". Ínfima, porém, barulhenta, politicamente forte, presente na mídia (velha, a que chamo de carcomídia) e atuante nas redes sociais (aqueles que fizeram a maldosa campanha por ocasião do câncer enfrentado pelo ex-presidente).

O problema da oposição não é, naturalmente, ser oposição, mas o fato de, por falta de um projeto alternativo e de respaldo popular, tirar proveito do ódio e do preconceito expressados por essa parcela minoritária a que me refiro como meio de sobrevivência política. Uma estratégia equivocada, evidentemente, porquanto suicida, como fica patente a cada dia, mas persistente.

Sobre a pressão em relação ao julgamento, basta ver as palavras de insuspeitos ministros do STF. O mais recente foi Luiz Fux, que negou qualquer atitude nesse sentido. Só restou a palavra isolada do mendaz Gilmar Mentes. Ops! Mendes.

Abraços!