quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Todos os "Homens Bons" da Presidenta


Falando sério, muito sério. Todos nós, petistas, quase sem exceção, sempre admiramos Marina Silva. Por sua história de vida, por sua postura antes firme na defesa das nossas bandeiras, das causas populares, por seu caráter. É uma pessoa dócil, extremamente inteligente, com uma experiência de vida riquíssima.. Poderia, sim, ser uma "Lula de saias".


Estive algumas vezes com ela, ao longo de nossa trajetória política, coincidente no tempo. Sempre nutri por ela enorme admiração, até o dia em que ela concretizou sua ameaça de deixar o PT e aventurar-se em um projeto de âmbito indisfarçavelmente pessoal. Nem mesmo isso, porém, transforma-a numa pessoa digna de desprezo. Não concordo com quem pretende transformá-la em uma "pessoa do mal" - de plano, abomino maniqueísmos - só porque "virou a casaca". Não acho que ela não coubesse no figurino de presidenta da República. - até torcia por isso, enquanto ela se mantinha associada às lutas que eu mesmo empreendo desde minha juventude.

Tudo de que discordo é da opção que ela fez pela carreira solo. Aliás, em política, carreira solo não existe. Preocupam-me as pessoas em seu entorno, os apoiadores "desinteressados" de um banco, como o Itaú, ou de uma empresa, como a Natura, não por acaso grandes devedores do erário federal.

Dirão que Lula também teve apoio, em campanha, de bancos, empreiteiras e outros empresários "desinteressados". Mas o fato é que Lula jamais rompeu com as bandeiras históricas do partido que fundou e que juntos construímos,.

Preocupam-me as súbitas mudanças de Marina, sua inflexão de 180 graus em relação a determinados temas, desde a do âmbito pessoal, em que trocou o catolicismo progressista da Teologia da Libertação pelo mais anacrônico evangelismo, o chamado "neopentecostalismo" (aliás, a partícula "neo" na palavra engana tanto quanto no discurso da "nova política"), passando por outras renegações de defesa de causas populares, para flertar com o neoliberalismo (olha o "novo" aí outra vez!...).

De todo esse quadro, porém, o que me preocupa é a renegação da própria história, ao ponto de ela renegar a Política. Marina é inteligente, perspicaz, de modo que não é possível que não esteja vendo a dimensão oceânica da aventura em que mergulhou.

Da negação dos partidos (sua mal costurada "Rede" sequer leva "partido" no nome, fórmula, aliás, já adotada pelo "Democratas", o ex-PFL, ex-PDS e ex-Arena da velha política...) - que veio como rescaldo das "jornadas de junho" - ao falso discurso da "nova política", em tudo seu caso se assemelha aos de Jânio Quadros, nos anos 60, e Collor de Mello, em 89. Ambos chegaram à presidência da República montados em partidos nanicos, frágeis - em relação aos quais o de Marina, a tal Rede, é o de maior fragilidade, pois sequer se consolidou formalmente perante a justiça eleitoral. Ambos traziam um discurso moralista, sem conteúdo conhecido, e se posicionavam como protagonistas de uma "nova política".

Indagada sobre com quem irá governar, Marina se limita ao discurso vazio de que terá ao seu lado os "homens bons". Desconheço que haja no mercado um aparelho de raio X que radiografe o caráter dos potenciais ministro e demais assessores. E ela menciona Eduardo Suplicy e Pedro Simon, a respeito de quem diz terem ficado "no banco de reservas" até agora - mesmo sendo, ambos, vetustos e respeitados senadores da República. E recentemente, em entrevista a Renata Lo Prette, da GloboNews, Marina acrescentou o nome de Jarbas Vasconcelos, outro, imagino, lídimo representante da "nova política". 

Em seguida, ela diz que "o povo" lhe fornecerá os tais "homens bons". Pois esse "povo", por experiência histórica, ao lado de tucanos e petistas, lhe fornecerá Renan Calheiros e sua trupe no Senado, a turma do Sarney e do Collor os parlamentares do PMDB e do PTB e todo o baixo clero dos partidos menores, ávidos por cargos e outras benesses. Que vão fazer valer sua representatividade popular e, claro, seu poder de fogo, obstruindo e votando conforme seus interesses, até que a presidenta Marina os satisfaça. Porque é assim e assim será enquanto não houver uma profunda reforma política, como vem pregando a presidenta Dilma e o PT em geral.

Eleitos pelo voto direto, mas com forte apoio da direita, Jânio e Collor foram rifados logo em seguida. Sem um partido forte, sem apoio consistente no Congresso, sem apoio de entidades representativas da sociedade, sem respaldo popular organizado, Jânio renunciou e Collor foi destituído do cargo. Não é possível que não tenhamos aprendido algo com a História.

Termino com uma singela homenagem à Marina que conheci e que tanto admirei.


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