quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Espanha, Venezuela e Brasil

(Resposta ao meu infoamigo W.P., que me enviou a mensagem que segue ao final)

Caro W.,

O diabinho sentado aqui sobre minha orelha direita, como aqueles que aparecem nos desenhos animados, está me dizendo: "é, o W. tem toda razão. Lula - aliás Lulla, já que tem mesmo tudo a ver com Collor -, é de fato um bunda-mole, um covardão e puxa-saco!"

E prossegue o coisa-ruinzinha: "W. está certo e é preciso declarar guerra à Venezuela, antes que o perigoso Chaves - aliás Chávez, porque Chaves é apenas um inofensivo personagem já moribundo de um vetusto seriado infantil mexicano" -, enfim, em meio a inoportunas divagações, o esperto demozinho (ops! Demo, não! O tal bichinho se auto-intitula "democrata") vai dizendo, enquanto afia seu enorme e pesado bico laranja e preto, "antes que Chávez ponha em prática seu plano maligno de dominar o mundo e comece mandando sua enoooorme tropa invadir o território brasileiro, e eles nos saqueiem as riquezas e violentem nossas mulheres!"

Amigo W., vamos e convenhamos, Chávez, pelo menos até aqui, não tem sido mais do que um personagem folclórico, tão ofensivo para nós brasileños quanto o seu homófono do seriado mexicano. Serve para nos fazer rir com suas estrepolias, e há vezes em que rir é um santo remédio. Foi divertido (ou não foi?) vê-lo chamando Bush de "el Diablo" - aliás, Bush deve ser, como Lula, ou Lulla, outro covardão puxa-saco, temente ao onipotente Chávez, pois nem deu trela ao que dele disse o colega venezuelano.

Convenhamos e contravenhamos: é melindre excessivo achar que Hugo Chávez foi descortês com a pessoa de Lula só porque, visivelmente brincando, chamou-o de "magnata do petróleo". "Grave ofensa", ora, tenha a santa paciência! A experiência da dactilotomia vivida nos tempos de operário permitiu a Lula aprender que é preciso ter dedos para lidar com determinadas situações. E que se vão os anéis, oras bolas!

Enfim, contravenhamos e voltemos. O que há de importante é que o povo venezuelano é nosso vizinho e merece todo nosso respeito; assim também o boliviano. Temos muitas relações com esses povos, que vão além das econômicas, daí a importância da participação dos respectivos países no Mercosul, independentemente de quem quer que esteja no seu governo. Já o rei de Espanha está lá loooonge, do outro lado do globo, não precisa ter os mesmos cuidados que o presidente do Brasil, seja ele Lula, Lulla, Fernando Henrique, FFHH, Itamar, Collor, Sarney...

Aliás, nessa sua historinha dos colegiais (opa!, constato agora que o texto não é seu, mas de um meu colega advogado, que deve ter-se cansado demais ao participar com todo fôlego, uf! uf!, das inquantificáveis manifestações e passeatas do finado Movimento Cansei - alguém ainda se lembra?), o rei de Espanha comportou-se como o menininho rico, almofadinha engomadinho e delicado (um fidalgo, claro!), aquele que ia ao colégio com gravatinha borboleta - todo garoto conheceu um desses na escola - e abriu um berreiro, não porque lhe roubaram merenda alguma, mas porque o chamaram de "mariquinha"...


"- Manhêêêê, ó o que o Chaves, ops, Chávez falou!"

Tsc, tsc. Só vocês demotucanos para levar tão a sério essa história toda!

Um grande abraço!

Ass.: Luís Antônio Albiero, Capivari (SP)


Espanha, Venezuela e Brasil

Todo menino passou por isso ao menos uma vez: ter de encarar um valentão na escola. Todo mundo já foi para o recreio passando por uma odisséia mental, e a nada metafórica górgona que o aguardava era um moleque mais velho e mais forte, espancador de menores e ladrão de merenda. Todos conhecem o tipo. E todos evitavam cruzar com ele, claro. Quanto maior a distância, menor o problema. Mas alguns usavam uma tática oposta; viviam puxando o saco do sádico mirim. Eram os baba-ovos de plantão, que compravam a simpatia dele com as adulações. Quando o valentão escolhia um deles pra extravasar sua violência natural, a saída do puxa-saco agredido era fingir que tudo não passava de uma brincadeirinha do amigão. Diminuía o tempo de surra e salvava as aparências. Assim o puxa-saco continuava amiguinho do covardão e tentava fazer com que os outros acreditassem que era apenas uma travessura. E afinal, quase nem tinha doído, gente.

Semana passada Lulla riu de Hugo Chávez quando foi chamado de sheick da Amazônia e de magnata do petróleo, entre outras graves ofensas. Tudo televisionado. O riso nervoso, forçado, demonstrava claramente que Lulla tinha medo. Lulla morre de medo de Chávez, o valentão boquirroto. Lulla fez o papel de amiguinho para apanhar menos.

Lulla foi ironizado, espezinhado, humilhado pelo psicopata Hugo Chávez , na Cúpula Ibero-Americana, ocorrida no Chile. Riu, nervoso, quase histérico, para disfarçar a humilhação mundial que passava. Não só ele, mas, aos olhos do mundo, todo o Brasil foi, de novo, agredido verbalmente pelo venezuelano. O mesmo que chamou nosso Congresso de papagaio dos americanos.

O rei da Espanha não comunga com esses pensamentos. Não agiu como Lulla, fingindo que era tudo brincadeirinha do amigão do peito. Não foi fraco, não foi pusilânime. Quando o psicopata falou mal da Espanha e do ex-primeiro-ministro José Maria Aznar, chamando-o de fascista, ouviu o merecido cala-boca; rei Juan Carlos, um homem educado, piloto aposentando da Força Aérea espanhola, fidalgo que bem representa seu país, deu seu recado ao ditador. E ao mundo: chega desse imbecil.

Algo que não ouviu do presidente brasileiro; Lulla perdeu uma excelente chance de mostrar que não somos idiotas, ou ao menos, que não é covarde. Estamos mal. Lulla riu (riu!) ao ouvir as ofensas ironicamente dirigidas ao Brasil e à sua triste figura, meu nobre cavaleiro Dom Quixote; digo, Sancho Pança. Moinhos que o digam. Cervantes foi honrado pelo seu rei. Fomos humilhados pelo nosso presidente, mais ainda que pelo falastrão venezuelano. É de chorar; justamente quem deveria, até pela força de seu cargo, defender o Brasil de Chávez, preferiu fingir que a pancada não doeu.

Achou melhor assim. Lulla só mostra as garras com os menores, como o jornalista americano Larry Rother, que relatou as paixões etílicas do presidente e quase foi deportado pelo "crime". Com os mais parrudos, age diferente; Chegou até a ficar amicíssimo de Fernando Collor, José Sarney e Orestes Quércia, a quem antigamente chamava de ladrões.

Com Evo Morales não foi diferente. O boliviano espoliou e humilhou o Brasil invadindo militarmente a Petrobrás, com transmissão ao vivo pela TV mundial. Lulla fez que não era com ele. Como se a pedrada não tivesse atingido suas costas.

O rei espanhol provou que tudo tem limite. Fez com Chávez o que Churchill fez a Hitler em 1938: Avisou ao mundo o perigo que representa um tirano demente e armado até os dentes. Parece que Juan Carlos teve mais sucesso que o inglês em sua empreitada. O alerta foi ouvido.

A Europa cansou de Chávez. O rei disse o que muitos pensam, mas não falam. O venezuelano odeia a Espanha, um país que enriqueceu à custa de muito trabalho duro. Muito diferente da Venezuela, que empobrece a olhos vistos,
não obstante as fortunas arrecadadas com a exportação de petróleo, cujos lucros vão diretamente para o ralo do populismo e da corrida armamentista.

Na escola em que o rei Juan Carlos ministra aulas, Lulla ainda está no primário. E Chávez o espera no recreio, para roubar nossa merenda.

Fernando Montes Lopes
Advogado
fermlopes@uol.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Diga ao povo da Venezuela como são engraçadas as estripolias do chavez ... pimenta no dos outros é refresco...