segunda-feira, 2 de outubro de 2006

A hora da verdade

Andei ausente da rede por conta da militância. Conciliar o trabalho profissional com as atividades políticas não foi fácil, não sobrou tempo. Aqui estamos novamente, enfim.

Infelizmente, vimos adiada a comemoração da vitória, por tão poucos votos. Foi assim em 2002, estamos acostumados. Importa mesmo é que saímos de alma lavada destas eleições. Basta ver a performance excelente de governadores eleitos, em especial do ex-ministro Jaques Wagner, da Bahia, que destronou ACM e companhia, e de fortes expectativas, como Ana Júlia, no Pará, e Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul.

Feliz especialmente estou pela eleição de Antônio Mentor, deputado estadual, e José Mentor, federal, para quem destinei meus modestos apoios.

Feliz igualmente com o retorno de gente injustiçada, que foi tripudiada pela mídia sem piedade e qualquer chance de defesa, como Genoíno, Palocci, João Paulo Cunha. Lamento pela Ângela, esta a mais injustiçada de todos, e do professor Luisinho.O eleitor petista provou que é maduro, inteligente, consciente, e que não se deixa levar por mentiras, por mais que elas sejam repetidas tantas vezes.


Foi duro, nos últimos dias, suportar o massacre midiático. O "Serragate" dominou completamente o noticiário, como se fosse a coisa mais importante do mundo. Engraçado que o conteúdo do "Dossiê Serra" não inspirou as mesmas preocupações, nem a forma ilícita como as fotos do dinheiro, supostamente encontrado com petistas, foram obtidas pela coordenação da campanha do angelical Geraldo Alckmin...

Lula, porque chamou seus próprios aliados, e com inteira razão, de "aloprados", foi censurado pela mídia; Alckmin comparou o presidente da República a "ladrão de carro", chamou-o de "chefe de quadrilha", fez toda sorte de desaforos, mas não foi destinatário de sequer um suspiro de indignação por parte dos mesmos censores do candidato petista.

Agora é arregaçar as mangas e trabalhar firme pela vitória no segundo turno, quando certamente cairá a máscara de "
santo" de Alckmin. Embora Lula nem precise de fazer ataques, é inevitável que nos debates - que agora se darão em pé de igualdade (não mais de três contra um) -, serão abordados assuntos espinhosos para o espinhento "picolé de chuchu".


A conivência do governo tucano com o PCC é um exemplo. Outro é a blindagem do governador Alckmin, que não permitiu a abertura de nenhuma das 69 CPIs requeridas pela Assembléia Legislativa, o que permite vislumbrar o quanto ele vem tentando esconder há tanto tempo. Há coisas do arco da velha! A destruição da escola pública no estado, a overdose dos pedágios, o descaso com estradas que estão sob cuidados do governo estadual (minha Capivari que o diga!), a ausência há doze anos de aumentos salariais aos servidores públicos, essa coisas.

Por outro lado, Lula poderá falar mais diretamente à classe média. Mostrar, por exemplo, que o grande mal da corrupção não é somente ela mesma, mas a impunidade, que a encoraja, fomenta e perpetua. Nesse aspecto, o governo Lula dá de vinte a zero no governo tucano. A atuação da Polícia Federal sob seu comando, comparada à ineficiência do período anterior, mostra de modo incontestável que no atual a corrupção não ficou impune, nem mesmo quando foi preciso "
cortar na própria carne". As pessoas se esquecem ou fingem não perceber que foi a Polícia Federal do governo do PT que prendeu em flagrante os integrantes do próprio PT que supostamente tentavam comprar o tal dossiê (sem falar da óbvia desproporção entre valor e conteúdo).

Mostrar que os programas sociais favorecem não apenas os pobres do Norte e Nordeste, mas também à própria classe média do sul e do sudeste, na medida em que permite aos brasileiros de lá manterem-se em seu lugar de raiz. Os migrantes não são um problema, como disse José Serra expressando preconceito, mas é certo que o inchaço dos grandes centros provocado pelo processo migratório acirra a disputa por moradia, emprego, salários, serviços públicos, o que por vezes é fator gerador de graves conflitos sociais.


Mostrar que programas como o bolsa-família contribuem para o aquecimento da economia, tanto de lá, onde estão os principais beneficiários diretos, como de cá.

Mostrar que a classe média também foi favorecida diretamente pela política do governo federal, como, por exemplo, com a ausência de elevação de impostos (não confundir com elevação da carga tributária, fruto da arrecadação mais eficiente) e, em especial, com o reajuste da tabela do imposto de renda por duas vezes (o governo do PSDB, durante oito anos, recusou-se a fazê-lo). A classe média, assim como a pobre, também pôde comer melhor, estudar melhor, construir e fazer reformas domésticas, empregar-se e reempregar-se etc.

Enfim, Lula terá oportunidade de, com sutileza para não ferir suscetibilidades, fazer a classe média perceber que ela não pode continuar adotando uma postura hipócrita e contraditória. Em duas palavras, se clama por decência na administração pública, precisa perceber que o combate à corrupção é um processo que envolve sobretudo o rompimento da regra da impunidade; se clama por melhoria de qualidade de vida, deve compreender que, por uma questão de justiça social, esta deve começar pelo bem estar dos menos favorecidos, o que se reverte em favor de todos.

Nenhum comentário: