quinta-feira, 19 de outubro de 2006

O melhor garoto-propaganda de Lula

Os idealizadores da propaganda de Lula no horário eleitoral gratuito capricharam na elaboração dos programas e, sobretudo, na escolha dos apresentadores. Há um índio simpático, há moças bonitas, uma negra e uma branca, há um jovem e há um homem de meia idade, todos capazes de estabelecer empatia com o eleitor telespectador. O que ninguém poderia imaginar era que o melhor garoto-propaganda da campanha de Lula fosse aparecer no programa do adversário. Muito menos que ele próprio, Geraldo Alckmin, pudesse cumprir esse papel.

Nos instantes finais do primeiro tempo das eleições, chegou a parecer que o gramado estava escorregadio apenas para o time de Lula, que sofreu um gol contra supostamente feito por membros de seu partido. Mal começou o segundo tempo, porém, e se percebeu que do outro lado também se escorregava. O primeiro deslize foi do próprio Alckmin, naquela mal avaliada aliança com o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho. Sem querer, o prefeito da capital fluminense César Maia e a candidata ao governo do Estado Denise Frossard deram um boa mãozinha a Lula.

Depois, veio o escorregão maior, outra vez do próprio Alckmin, no debate da TV Bandeirantes, em que ele expôs seu caráter arrogante, agressivo e deliberadamente desrespeitoso ao presidente da República.

Por fim, acuado pelas fortes e fundadas suspeitas de que acabaria com o programa bolsa-família, Alckmin viu-se forçado a vir a público e, de forma enfática, defender a manutenção do programa. Suas reiteradas aparições no vídeo funcionaram como um atestado eloqüente do sucesso do bolsa-família que, ao lado do Prouni, é a grande marca do governo Lula. E, no conjunto da obra, resta que a única proposta efetiva que Alckmin apresentou até agora foi a de "manter e ampliar" um programa de seu adversário.

A partir de agora, Alckmin deve-se preparar para cumprir o mesmo papel de garoto-propaganda em relação ao Prouni. A menos, é claro, que ele realmente queira acabar com o programa que permitiu a mais de 200 mil estudantes pobres o acesso á universidade.

É que em breve ele será chamado a dizer à sociedade brasileira se, acaso eleito, atenderá à pretensão de seu principal partido aliado, o PFL, de acabar com o Prouni, ou se essa questão marcará o primeiro conflito entre seu suposto governo e aliados, estabelecendo a primeira crise de governabilidade.

Tudo porque em 4 de outubro de 2004 o PFL, partido a que pertence o vice de Alckmin, senador José Jorge, entrou junto ao Supremo Tribunal Federal com uma ação direta de inconstitucionalidade em que pede a declaração de que é inconstitucional, na íntegra, a MP 213, que criou o Prouni, convertida em lei em 2005. Se o PFL obtiver sucesso, na prática significará o fim do programa. O processo, de n° ADI 3314, está nas mãos do relator Ministro Carlos Ayres de Brito. Na verdade, do ponto de vista estritamente jurídico, a ação tem mínimas chances de vingar, tanto que a Procuradoria Geral da República já deu parecer desfavorável à pretensão do PFL. No entanto, revela a verdadeira intenção do principal aliado de Alckmin e torna um risco real a extinção do Prouni.

Certamente Alckmin não confirmará a possibilidade de acabar com o programa. Ou seja, será divertido vê-lo, com a mesma ênfase com que fez em relação ao bolsa-família, bancar o garoto-propaganda do Prouni. Coisas da política.


Clique aqui para ler, no portal do STF, a íntegra da petição inicial da ação

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